VIÚVAS NEERLANDESAS: A RECONSTITUIÇÃO DE TRAJETÓRIAS FEMININAS NO ÂMBITO DAS MIGRAÇÕES DO SÉCULO XIX

 Esta foi uma das pretensões da monografia intitulada “Entre Colônias e Redes Sociais: viúvas neerlandesas e o avanço da fronteira agrária em direção aos arroios Sampaio e Forquetinha – Rio Grande do Sul (1882-1900)”, defendida pelo acadêmico Jéferson Luís Schaeffer na Universidade do Vale do Taquari – Univates em dezembro de 2020, como parte da exigência para a obtenção do título de licenciado em História. O estudo foi resultado de investigações realizadas em projeto de pesquisa enquanto bolsista de iniciação científica, bem como, do intercâmbio realizado na Europa durante o ano de 2019.

A pesquisa seguiu aspectos metodológicos da micro-história e história oral e se deteve às experiências migratórias de duas viúvas, Pietertje Kloote e Henders Wansink, que emigraram dos Países Baixos no ano de 1858 em direção ao Rio Grande do Sul, no Brasil. Estas mulheres integraram o grupo de imigrantes contratados pela Sociedade Montravel, Silveiro & Cia para se estabelecerem na Colônia Santa Maria da Soledade, correspondente a partes da jurisdição dos atuais municípios de Barão, Bom Princípio, Carlos Barbosa e São Vendelino, no Vale do Caí/RS.

Colônia Santa Maria da Soledade - vista de Barão/RS.
Foto: Jéferson Schaeffer, 2018.

Oriundas de regiões como Schouwen-Duiveland (Província Zeeland) e Achterhoek (Província Gelderland), respectivamente, as famílias de Pietertje e Henders se estabeleceram no distrito Silveiro da referida Colônia, onde outras famílias neerlandesas também se radicaram e de cuja solidariedade contaram ao ingressarem precocemente na condição de viúvas. A viuvez e a longevidade das imigrantes em questão, implicou na manutenção e ampliação de suas redes de relações sociais, assim como, em sucessivos deslocamentos.

Superando adversidades por meio de estratégias que envolveram a alocação conjunta, o parentesco simbólico e a mobilidade, estas viúvas integraram trinta anos mais tarde um projeto coletivo de migração interna, que teve como destino os empreendimentos colonizatórios existentes às margens dos arroios Sampaio e Forquetinha, no Vale do Taquari/RS. Entre estes, destacou-se a Colônia Nova Berlim, equivalente a áreas territoriais dos atuais municípios de Canudos do Vale, Forquetinha, Lajeado, Marques de Souza, Santa Clara do Sul e Sério, onde ainda hoje vivem descendentes de famílias de origem neerlandesa.

Colônia Nova Berlim - vista de Forquetinha/RS e Sério/RS.
Foto: Jéferson Schaeffer, 2017.

Neste sentido, as trajetórias de Pietertje e Henders fornecem subsídios para a compreensão de um movimento migratório entre os Países Baixos e o sul do Brasil ainda pouco abordado pela historiografia: a imigração que no Rio Grande do Sul compreendeu o período de 1857-1865 e somou cerca de 430 imigrados. Da mesma forma, elucida a participação de famílias de origem neerlandesa a partir da década de 1880 no processo de colonização do território atualmente conhecido como “Vale do Taquari/RS”.




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